Mani da Oca
Ouça o terceiro episódio do podcast:
Roteiro Mani da Oca
Certo dia, em uma comunidade indígena Guarani, nasceu uma criança diferente de todos os outros bebês. Sua pele era tão branca quanto as nuvens do céu. Ninguém sabia explicar como uma menina indígena poderia ter nascido tão branquinha. A menina era tão sorridente e esperta que logo cativou a todos. Ela começou a caminhar, falar e interagir muito cedo, era muito inteligente e amada a tal menina:
“Aqui entre meu povo, recebi o nome Mani, sou uma criança diferente, porque tenho a pele branca, e mesmo sendo diferente, sou querida e respeitada por aqui! Eu adoro nadar no rio, balançar na rede e aprender as coisas da vida com os mais velhos!”
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Naquele momento, a comunidade passava por dificuldades. Uma grande seca havia prejudicado a colheita dos alimentos. Sem alimento por perto os animais também eram raros. A fome se aproximava…Já não bastasse o problema da falta de alimento, outra preocupação chegou de repente: a menina Mani, começou a ficar doente. Sua mãe insistia:
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“Levanta de rede filha, toma esse chá, come essa fruta...”
“To cansada minha mãe...quero ficar aqui quietinha”
Alguns dias se passaram e em certa manhã, Mani não despertou mais, a pequena menina de pele branca havia morrido. A tristeza comoveu a todos. Resolveram, então, enterrar o corpo da menina no centro da maior oca que havia ali, para que de alguma forma, ela ainda estivesse por perto. A mãe de Mani, inconsolável, passava muito tempo sobre a cova da pequena, e chorava tanto, que suas lágrimas aguavam a terra. E foi então que algo misterioso aconteceu…
Sobre o lugar onde Mani foi enterrada, nasceu uma planta diferente, que os indígenas não reconheciam. Ela crescia forte e bonita a cada dia. Curioso com aquela planta, o pajé mandou cavar até suas raízes. E foi grande a surpresa quando perceberam que, por dentro, as raízes da planta eram branquinhas, branquinhas exatamente como a pele de Mani. Descobriram também que poderiam replantar essas raízes por toda a terra, e que era um alimento gostoso, forte e saudável. Essa planta passou a ser a principal comida para aquele povo e afugentou a fome que há tempos os preocupavam.
“Como me chamo Mani, e meu corpinho foi enterrado no meio de uma Oca, a minha família chamou a minha plantinha de Mani na Oca, que acabou virando MANDIOCA! Mas também sou conhecida como macaxeira ou aipim. Nasci lá na oca indígena do meu povo, mas hoje sou um alimento consumido no Brasil inteiro...”
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(MÚSICA GUARANI COM CRIANÇAS CANTANDO)
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Trilha sonoras utilizadas no episódio:
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https://www.youtube.com/watch?v=mbrkqeA4Wuc
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https://www.youtube.com/watch?v=7httG32ssio
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https://www.youtube.com/watch?v=8y5B0cLi9Jg
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https://www.youtube.com/watch?v=kzwPVXlZBVI
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https://www.youtube.com/watch?v=E6-jN8yot0Q
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https://www.youtube.com/watch?v=OiOOT932W-8
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https://www.youtube.com/watch?v=wUmpSReI8Xs&t=7s
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https://www.youtube.com/watch?v=l469uaunv6A&t=3569s
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1) Escute o podcast e depois leia o texto:
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No litoral de Santa Catarina o cultivo da mandioca é muito comum. Na história dessa região os engenhos de farinha de mandioca foram muito importantes no desenvolvimento da cultura e da economia local. Na região de Garopaba, por exemplo, existem engenhos de farinha que ainda estão em plena atividade.
Foram os açorianos que, ao chegarem no nosso litoral, construíram os primeiros engenhos, nos quais o maquinário era movido à tração animal ou à força do vento. No entanto, os açorianos aprenderam a cultivar e a comer a mandioca com os povos tupis-guaranis, muito provavelmente os carijós, que já viviam aqui por muito tempo antes da chegada dos europeus.
Na história de Mani, percebemos que esse alimento já era muito comum nos hábitos alimentares dos povos que viviam aqui no Brasil antes da colonização. Atualmente, nas refeições dos brasileiros, é possível encontrar inúmeras receitas que usam a mandioca como um de seus principais ingredientes.
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Faça uma pesquisa e busque outros alimentos ou hábitos dos povos originários que são comuns no nosso cotidiano e os elenque em seu caderno.
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Temos algumas comunidades Guarani na região de Santa Catarina. Que tal conhecer uma dessas comunidades, registrar o que você viu e ouviu e depois relatar para a turma?
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Que tal visitar um desses engenhos locais e conhecer como se produz a farinha de mandioca atualmente? Com a orientação do professor, preparem uma entrevista para ser realizada com os produtores.
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Converse com as pessoas mais velhas da sua família e encontre receitas e preparos de alimentos feitos com mandioca. Escolha uma delas para compartilhar com a turma.
CAROS PROFESSORES
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OBJETIVO: Observar a presença da cultura indígena Guarani na cultura local. Perceber as mudanças ocorridas com o decorrer do tempo, tanto em relação às características das comunidades indígenas, como das não-indígenas, e em relação à produção e o consumo de alimentos de origem indígena como a mandioca.
Essa atividade contempla a camada da narrativa mítica que explica como certo elemento surgiu no mundo, por isso uma forma de conhecimento. O texto da atividade, juntamente com o podcast, pode se desdobrar em várias possibilidades. A visitação a uma comunidade indígena local, ou até mesmo a projeção de um vídeo que mostre a realidade atual dos povos indígenas, pode combater a ideia que se construiu no imaginário popular do “índio que estacionou no tempo”. Outra sugestão para trabalhar o tema indígena na atualidade é trazer, pesquisar e comentar sobre indígenas atuantes nas universidades, nos setores públicos, na política, na área da saúde, etc.
A visitação a um engenho de farinha de mandioca local e as entrevistas com as famílias produtoras pode revelar detalhes sobre a história local, podendo gerar a produção de um jornal impresso, um vídeo estilo documentário, ou a criação de um álbum de fotos e registros. A partir das receitas coletadas pelos alunos é possível realizar uma exposição/degustação de pratos derivados da mandioca, ou outras receitas de origem indígena, possibilitando a troca de conhecimentos familiares e a percepção das transformações dos alimentos nos tempos e espaços diferentes.
ATIVIDADES
2) Assim como na história guarani da mandioca, os alimentos aparecem em muitas outras narrativas pois são essenciais à vida humana e por isso são fundamentais na nossa história. Os povos maias, que habitaram o sul do México, Guatemala, Honduras, El Salvador e Belize contam assim a história do surgimento dos seres humanos na Terra:
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Observe a imagem dos milhos comumente encontrados na América Central:
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Agora é sua vez de ser poeta! Escute com atenção o podcast e deixe a inspiração chegar! Crie um poema baseado na história de Mani e o escreva em seu caderno. Faremos na sala de aula um grande sarau para declamação dos poemas para a turma!
“Tepeu e Gucumatz, deuses criadores da Terra, resolveram criar a humanidade. Inicialmente moldaram os seres humanos com lama, mas eles ficaram muito moles e se desfizeram com a chuva. Criaram então outros seres a partir da madeira, mas eles ficaram muito duros e não tinham nenhuma alma. Finalmente, o ser humano é criado a partir de uma planta, o milho, e dessa vez a criação deu certo e originou toda a humanidade. ”
( https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_maia ) adaptado
CAROS PROFESSORES
OBJETIVOS: Refletir e expressar na poesia o que mais lhe fez sentido na narrativa. Aqui o aluno, o hermeneuta do mito (mitohermeneutica), mostra sua interpretação pessoal e a demonstra através de um processo criativo. Incentivar a criatividade e a capacidade de recontar o mito de outras formas a partir de si mesmo.
Essa atividade pode ser interdisciplinar envolvendo disciplinas como artes, português e ciências. Pode ser feita em duplas, e pode envolver imagens. Cada aluno pode trazer alguma imagem ou desenho que se refira à história do podcast, em seguida se cria um grande mural coletivo com todas as imagens, assim possibilitando a inspiração vir também através dos olhos. O estudante deixa vir à tona através da produção artística da poesia o que mais o inspirou ao ouvir (e ver) a história de Mani.
Escreve uma narrativa criativa fazendo suas conexões próprias. Além disso, a atividade também traz a referência de uma outra narrativa mítica indígena, da América central, mostrando a diversidade das cosmovisões e gerando interesse em outras possibilidades que também podem ser exploradas pelo professor.
*Que tal deixar músicas guaranis tocando na sala enquanto eles criam seus poemas?
Outra sugestão seria trabalhar, a partir dessa atividade, o conceito de antropofagia, prática que era realizada por algumas etnias indígenas. Esse ritual traz a ideia do corpo do outro como alimento para “alma”, se alimentando da personalidade, dos valores e talentos de outro indivíduo. Esse tema do corpo como alimento está presente em várias narrativas míticas, e pode ser melhor explorado, como veremos também na atividade a seguir.
3) É muito comum, nas narrativas indígenas, histórias parecidas com a de Mani, nas quais pessoas, corpos ou animais se transformam em alguma planta ou alimento importante para o coletivo. Alguns exemplos dessas histórias envolvem o guaraná, o açaí, o milho, a vitória régia. Você conhece algumas dessas histórias indígenas? Escolha um dos exemplos mencionados, ou outro que você encontrar, e faça uma pesquisa, reconte a história com suas palavras e depois a represente com uma criativa ilustração no verso da folha. Boa pesquisa!
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A partir desse tema também se faz possível explorar mais a relação entre o alimento e o corpo. Sugerimos uma vivência na natureza onde os alunos possam estar em contato com a terra, pés descalços, e onde seja possível um exercício de visualização no qual eles sejam incentivados a sentir como seria se criassem raízes a partir de seus pés e fossem se transformando em plantas. “Que planta você se tornaria? Que fruto geraria? Qual é sensação ao comer esse fruto? Por que escolheu tal alimento? ”. Essas perguntas geradoras poderiam conduzir uma “frutífera” discussão sobre a relação entre natureza, alimento e o corpo.
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CAROS PROFESSORES
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OBJETIVOS: Perceber outras formas de construir saberes. Ampliar o conhecimento e as experiências sobre as formas que os povos indígenas observam e entendem o mundo. Trabalhar na prática conceitos como Ecologia de Saberes e Pluriversalidade. Experimentar a mitohermenêutica ao trabalhar a relação entre o alimento e o corpo com o exercício de visualização.
Essa atividade contempla a camada do mito que evidencia as cosmovisões. Nesse caso as maneiras indígenas de interpretar e viver no mundo, principalmente ao se relacionar com a natureza e o alimento. É importante mencionar aos alunos que cada história tem uma origem étnica específica, não havendo uma homogeneidade nas versões e sim uma grande diversidade. Sendo assim, é fundamental que os alunos mencionem nos textos de qual etnia a história que escolheram se origina. A partir desses textos os alunos também podem fazer gravações e criar seus próprios podcasts, ou preparar uma grande contação coletiva de histórias. Nesse caso seria interessante estar em lugar aberto, com natureza no entorno, onde possam sentar em círculo e compartilhar suas narrativas e também suas experiências com o exercício de visualização do corpo/planta.
4) Após escutar o podcast com a história de Mani, feche os olhos e imagine as cenas, os personagens, a paisagem, a oca, a comunidade. Deixe sua imaginação trabalhar!
Depois de fazer esse exercício de visualização, veja como outras pessoas imaginaram alguns momentos da história. Observe as imagens:
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Imagens retiradas de:
https://noamazonaseassim.com/a-lenda-da-mandioca/
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Com a orientação do professor de artes, escolham uma técnica para dar vida as suas visualizações. Criem suas próprias obras de arte inspiradas no conto da menina Mani. Finalizem essa atividade com uma exposição bem bonita no pátio da escola. Bom trabalho!
CAROS PROFESSORES
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OBJETIVOS: Expressar as impressões particulares, conscientes e inconscientes, sobre a narrativa mítica através da arte.
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Essa atividade permite que, através de uma expressão artística, o estudante manifeste como o mito indígena fez sentido para ele. Contempla a camada do mito que atinge níveis mais profundos da mente humana e também se fundamenta na mitohermeneutica.
Ao realizar o trabalho com o professor de artes é possível promover a interdisciplinaridade e o diálogo com outros conhecimentos como as técnicas de pintura ou ilustração. Além disso, uma exposição das obras de arte fomenta a curiosidade e interesse da comunidade escolar como um todo, trazendo as cosmovisões indígenas como foco principal desse evento.